sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Crítica: UM SEGREDO ENTRE NÓS


DRAMALHÃO COM UMA NARRATIVA APRECIÁVEL

UM SEGREDO ENTRE NÓS é o tipo de filme que agrada o espectador por trabalhar com uma história que serve como lição de vida. Seu roteiro enfoca uma família classe média norte-americana, mas serve como referência para todos os grupos familiares da sociedade ocidental: monogâmica e patriarcal. O filme serve também – já em termos comerciais – para alavancar a carreira de Ryan Reynolds. Tendo a seu lado os veteranos atores Julia Roberts e Willem Dafoe, como alicerces para sua interpretação.

A trama gira em torno de uma família cujo patriarca (Willem Dafoe) é uma pessoa que exagera no tratamento que oferece aos seus. Ele exige de seu jovem filho uma capacidade muito grande de estudo e teoria para transformá-lo em um precoce escritor. Faz regras para todos que moram em sua casa – inclusive para a então pré-adolescente irmã de sua mãe -. E ainda, troca a conversa pela discussão com sua esposa (Julia Roberts). Estas cenas são, durante a projeção do longa, mostradas em flashbacks. O falecimento em um acidente de carro da personagem de Julia Roberts, anos depois, transforma a rotina de todos os membros da família. E alguns segredos que guardavam vêm à tona.

UM SEGREDO ENTRE NÓS trata com maturidade a formação da personalidade da personagem de Ryan Reynolds. Um homem que teve uma infância sofrida devido a repressão moral e física de seu pai. Mas que se transforma no catalisador de emoções de seus entes após o trágico fim de sua mãe. Acaba virando escritor – conforme desejo de seu pai – e um adulto equilibrado e sensato. Sua personalidade mantém a serenidade da família, não somente antes e após o funeral da mãe, como inclusive desde sempre.

O filme possui um roteiro esquemático, mas a direção de Dennis Lee faz a narrativa fluir. UM SEGREDO ENTRE NÓS é contemplativo e sensível. Sua estrutura é de um dramalhão profundo que jamais apela para cenas gratuitas. O choro copioso e sentido de Dafoe e Reynolds – cada qual em um determinado momento da película – revela o sentimento que a perda de um familiar causa nos seus. São cenas que jamais apelam para a pieguice, mas expressam o momento doloroso pelo qual as personagens do longa estão passando. As atuações de todo o elenco colaboram para o satisfatório resultado final do filme, com destaque absoluto para Willem Dafoe com uma interpretação soberba. O ritmo do filme é acertado. Sua montagem e estética lembram o estilo dos filmes europeus com suas peculiares imagens que valem mais que mil palavras.

A cena de amor entre Ryan Reynolds e sua esposa, a bela e sensual Carrie Ann-Moss, durante o funeral da personagem de Julia Roberts e exatamente durante o discurso de Dafoe em relação a sua finada mulher, revela uma tentativa acertada de Dennis Lee (diretor) de descontração na narrativa. Dennis Lee conta paulatinamente um drama familiar com todas as suas nuances e conflitos particulares de um grupo de pessoas que tem em seu líder, uma pessoa centralizadora, autoritária e prepotente. O grito de basta de apanhar de seu filho, ainda criança, e o adultério, já nos últimos tempos, de Julia Roberts com um crítico literário, afirmam que uma tirania não serve em lugar algum.

UM SEGREDO ENTRE NÓS aborda opressão, adultério, sexo proibido e serenidade em ocasiões adversas, além de uma relação balanceada de amor e ódio entre pai e filho. O filme narra com franqueza a formação e instauração de conflitos em um lar durante anos. Lugar onde deveria imperar a desarmonia, mas na realidade trata-se, devido ao equilíbrio e união dos seus membros, de um ambiente comum. E reafirma uma personalidade que tinha tudo para ser deformada em seus sentimentos e ações, mas que, na realidade, é o ponto de equilíbrio mais realçado entre todos.

MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

Nenhum comentário:

Postar um comentário