sábado, 29 de novembro de 2008

Crítica: HANCOCK


DIVERSÃO COMERCIALMENTE EFICAZ

Will Smith e Charlize Theron estrelam esta ação Hollywoodiana com o mesmo talento que emprestaram a outros filmes. Smith amadureceu bastante como ator. Seu desempenho em À PROCURA DA FELICIDADE já indicava isso. Seu talento para o drama foi testado e aprovado. Nascido para atuar em comédias, Smith está completamente à vontade neste HANCOCK que abusa de sua verve cômica. Charlize Theron encantou o mundo com uma beleza ingênua e um talento maduro, já no início de sua carreira na segunda metade dos anos 90. Nesta película esbanja agora uma beleza madura e segue talentosa em seu ofício.

Hancock, o personagem, é um super-herói solitário e esquentado que vive praticamente à margem de uma sociedade que o despreza. Mesmo salvando vidas e agindo e praticando o bem, o herói às avessas quanto ao estilo de vida social e popularidade, combate criminosos como se estivesse praticando algum entretenimento qualquer. Sempre mal-vestido e sem ninguém para dialogar, recorre ao whisky para ocupar seu tempo. Até que, um dia, evita que Ray (Jason Bateman), um ideólogo descontextualizado com o mundo a sua volta – infelizmente - seja atropelado por um trem. Este detalhe conduz a trama a uma mudança narrativa.

Peter Berg (diretor) injeta a HANCOCK uma narrativa sempre ágil e eficiente. Aproveita bem os efeitos especiais e elabora um filme curto e descompromissado sobre a inversão dos padrões das HQ’s - gênero que tornou-se nesta década um filão já bastante explorado-. Inverte, de princípio, o conceito de um herói ao transformá-lo em uma pessoa totalmente avessa aos padrões estabelecidos no imaginário da população e na concepção dos autores que criam em suas pranchetas de desenho esses seres com poderes extraordinários. Agrada aos telespectadores o modo que Hancock encara o mundo e estão ali (até sua transformação – ajudado pelo relações públicas Ray – em um herói mais zeloso com a sua imagem) as cenas mais hilariantes do longa.

O filme apresenta em seu clímax uma correria injustificada. Mais dez minutos de duração e HANCOCK poderia ser uma obra mais bem acabada e definida. Além disso, Peter Berg peca por não explorar ao máximo as potencialidades psicológicas de suas personagens. Existe um esboço de conteúdo dramático quanto a este detalhe. A cena em que Will Smith chora ao lembrar que há 80 anos (?) sofreu um acidente e as seguintes (quando o filme torna-se mais denso) são tão profundas quanto um pires. Mas deixam evidente que no roteiro havia uma tendência de uma maior profundidade do emocional das personagens.

O clima de descontração do filme muda um pouco depois que a personagem de Theron mostra uma força descomunal e revela um segredo a Hancock. Quando o personagem heróico descobre sua verdadeira origem e finalidade no mundo, a trama ganha ares de maior seriedade. Embora nunca perca de todo o tom de deboche e irreverência que o filme transborda na telinha.

Há, desde suas cenas iniciais, um festival de efeitos visuais que funcionam bem na trama (apesar de empobrecer a narrativa), que dão um ritmo muito veloz ao filme. A película apresenta em decorrência desta tecnologia muitos vidros e paredes quebradas e diversos carros e edifícios destruídos. Apesar da implausibilidade de várias cenas e até mesmo do filme como um projeto de todo inverossímil, HANCOCK funciona.

Hancock e a personagem de Theron são seres que unidos se enfraquecem (paradoxo?) e têm em comum a mesma invulnerabilidade e imortalidade. Como todo super-herói, possuem sua marca e um calcanhar-de-aquiles. Sua fragilidade latente resume ao fato de serem dois personagens que se amam e não poderem ficar juntos. Contrariando o senso-comum, os dois devem estar o mais longe possível um do outro. A personagem de Theron consciente deste fato procura um mortal para casar. Quanto ao herói que dá título ao filme, sua missão é sempre salvar a humanidade de forma solitária. Sob um olhar filosófico a(s) característica(s) e ponto fraco do herói existem, isso está latente na tela. Mas, no mundo real, existem vários heróis que conhecemos e nem percebemos. Todos com sua marca diferencial e seu ponto vulnerável.

O filme trata de imortalidade, mudança de aparência e comportamento e ideologia fora dos padrões atuais de uma sociedade capitalista. E narra a saga de um ser imortal, que combate criminosos como se estivesse batendo papo com amigos, desleixado e consumidor de whisky, que depois de 80 anos (?) volta a se relacionar com alguém. Levando-o a uma radical postura pessoal e social. E descobre com uma convivência familiar, a resposta para suas dúvidas e a razão de sua existência.

MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

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