segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Crítica: NEM TUDO É O QUE PARECE


TRATA COM VIGOR UM AMBIENTE BARRA-PESADA

O mesmo produtor de películas cultuadas pelas suas originalíssimas estéticas e conteúdos subversivos - leia JOGOS, TRAPAÇAS E DOIS CANOS FUMEGANTES e SNATCH – PORCOS E DIAMANTES, do diretor Guy Ritchie – realizou mais um filme onde o mote é o submundo do crime, mais precisamente, o tráfico de drogas. O diretor deste NEM TUDO É O QUE PARECE é Matthew Vaughn, um cineasta menos ousado que Guy Ritchie.

A trama começa com a personagem principal, interpretada pelo James Bond da vez, Daniel Craig, como um dos maiores responsáveis pelo esquema de transações ilegais com entorpecentes. Seus colegas possuem uma determinada função na “organização” e Craig deseja sair de cena. Contudo, uma ordem de seu superior desencadeia não somente sua permanência como gângster – pode ser qualificado como mafioso, também – como todo um processo de formação de um líder de negócios escusos. Seu estado psicológico acaba ficando abalado em um primeiro momento para em seguida ver fortalecer seu emocional devido às situações que acaba tendo que passar e assumir.

A narrativa do longa funciona bem, com muita movimentação e muita truculência, e sua estrutura básica é de um filme policial com o gênero ação. NEM TUDO É O QUE PARECE tenta aprofundar no psicológico de suas personagens. O resultado quanto a isso, não é completamente satisfatório, já que os atores não rendem o suficiente para tal. Inclusive o razoável ator Daniel Craig. O ponto forte do filme são as diversas cenas que esmiúçam o ambiente barra-pesada dos negócios ilegais. Temos aqui um realista documentário ficcional do ambiente sórdido e das relações (des) humanas entre os meliantes. Todos que estão ali são matadores e alvos. Vaughn consegue imprimir ritmo e agilidade a uma narrativa definida quanto a seu conteúdo e forma.

O roteiro do filme tem várias nuances que Vaughn soube explorar, principalmente a formação de um líder mafioso que passa por diversas situações estressantes e corre riscos para se tornar respeitado entre seus colegas. A personagem de Craig passa por uma verdadeira metamorfose para, sob pressão, conseguir chegar a tal “cargo”. Sua personagem não tem tempo, nem mesmo, para conseguir assimilar o seu primeiro crime letal. Seu arrependimento é logo suprimido pela tensão que volta a sentir ao continuar correndo risco de vida. Denotando uma verdadeira catarse emocional em seu íntimo. Elemento narrativo pouco aproveitado pelo diretor.

É um filme violento e tenso ao extremo. A narração em off feita pela personagem de Craig no início e no final da trama e conseqüentemente seu desfecho imprevisível e sensato realça um moralismo do diretor, tal como uma mensagem cifrada que, utilizando o popular ditado, diz claramente que: o crime não compensa. Todas as personagens que fazem de NEM TUDO É O QUE PARECE um filme com qualidades evidenciadas, visam e prezam somente o dinheiro em detrimento da vida de seus semelhantes. O vilipêndio pela vida humana é dolorosamente mostrado em suas vicissitudes narrativas.

NEM TUDO É O QUE PARECE é um filme vigoroso e tenso. Aborda ganância, corrupção moral, traições entre comparsas e assassinatos, em uma trama onde a brutalidade impera e narra começo, meio e fim da “carreira” de sua personagem central, que vai abruptamente se transformando em um ser mais perigoso, enganando e sendo enganado pelos seus. E que sonha em mudar de ramo e de estilo de vida ao lado de uma atraente moça, mas que sucumbe a sua própria vida errante.

MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

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