
CAÇADA MONÓTONA E ARRASTADA
Richard Gere é um ator de razoável eficácia diante das câmeras e já atuou em outro filme que retratava (como uma denúncia subliminar) um sistema corrupto. Em 1997 estrelou JUSTIÇA VERMELHA onde fazia um alerta quanto ao sistema de governo chinês em relação ao tratamento dado aos estrangeiros e à pena de morte por motivos vagos ocorridos naquele país. Como budista, Gere provavelmente resolveu participar do projeto devido à ocupação da China no Tibet (pátria do principal expoente do Budismo, o monge Dalai-Lama). Neste A CAÇADA volta ao filme denúncia ao trabalhar com a suposta ineficácia das autoridades responsáveis em relação à captura de líderes genocidas de guerra. O diretor e roteirista Richard Shepard foi buscar o texto na guerra nos Bálcãs, entre os muçulmanos e os sérvios. Trata-se na verdade de um conflito étnico.
Dois homens que fazem uma dupla em arriscadas coberturas para uma grande rede de televisão norte-americana em conflitos bélicos (o jornalista interpretado por Gere e o câmera vivido por Terrence Howard) são tão eficientes nas suas missões que ganham prêmios de excelência pelos seus trabalhos no desempenho de suas funções. Durante uma reportagem e no ar, Simon/Gere tem um surto e é demitido. Enquanto Simon passa por vários canais de televisão a cabo até ter que se endividar com agiotas para bancar suas próprias reportagens, Duck/Howard é promovido e passa a trabalhar em estúdio como operador-chefe de câmera. Assume um posto no estúdio da emissora e ganha regalias que sabe aproveitar. Até que, cinco anos depois, voltam a se encontrar e partem para uma busca a um temido foragido de guerra.
O roteiro razoável e a direção burocrática emperram o ritmo da trama. Arrastado e sem nenhuma cena de causar impacto e tampouco alguma originalidade. A CAÇADA possui uma narrativa monótona demais para um filme de ação e pouca intensidade nas situações tensas para um drama. O filme possui uma estrutura indefinida entre a sua definição de gênero. Gere e Howard atuam com certa determinação e contribuem para salvar o filme de um desastre total. A estética do filme é equivocada. Suas pequenas surpresas não provocam no telespectador algum grande interesse e ainda por cima, seu clímax é decepcionante.
A visão do diretor em relação aos jornalistas que fazem uma cobertura de guerra é perfeita. Sempre sagazes e astutos e com faro apurado para a notícia, correm riscos extremos durante o fogo cruzado diário que convivem diariamente durante o conflito. Mas o mote da película é absurdo: três jornalistas (desarmados e sem prática para tal desafio) em busca de um assassino rodeado por guarda-costas sanguinários. A motivação para tal tarefa, a princípio, o filme sugere ser financeira, mas na realidade é pessoal. Apesar de ser baseado em fatos reais, o diretor se deu ao luxo de fazer uma versão livre para o seu final. O filme assume, assim, um tom de fantasia em relação ao sucesso de suas personagens na empreitada.
Os conflitos de ordem étnica na Europa são intensos e dramáticos, provocando a ruptura de várias nações e, conseqüentemente a mudança de nome de cada país cujos habitantes não são completamente de uma mesma etnia. Estes países convivem sempre com a intolerância com relação à origem de cada um e passam os anos em uma conflituosa situação. Até a fragmentação, desmembramento e demarcação de territórios. Não sem antes haver muito derramamento de sangue. As nações que compunham a União Soviética eram de várias etnias e se emanciparam. Mesmo depois da fragmentação, a Geórgia e a Rússia – duas nações da antiga URSS - tiveram uma relação belicosa recentemente. A Geórgia não admitia que uma de suas etnias se emancipasse. Na antiga Iugoslávia – a ambientação deste A CAÇADA – os conflitos foram mais intensos, com a rusga bélica entre diversos povos como sérvios e croatas se duelando por questões étnico-nacionalistas. Vários jornalistas foram enviados para fazer a cobertura dos acontecimentos (o início, meio e fim de A CAÇADA).
A CAÇADA aborda (sempre resvalando na rotina e mesmice) coragem, perda amorosa, uma reputação abalada, apadrinhamento e obstinação ao narrar a trajetória de um jornalista famoso e destemido que acaba por entrar em declínio profissional e financeiro - após um fato ocorrido em Sarajevo -, mas que busca ao caçar o causador de seu infortúnio, além de vingança pessoal, a libertação de suas limitações e pressões que passou a exercer sobre si mesmo.
MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA
dfaf
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