quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Crítica: ZANDALEE – UMA MULHER PARA DOIS

ADULTÉRIO INCONSEQÜENTE

O cinema é visto há muito tempo como uma forma de fugir dos problemas do cotidiano, conhecido como escapismo. Mas na realidade é um reflexo do comportamento humano que vemos na tela. Um filme repete toda forma de atitudes, ações e modo de pensar das pessoas. Seja um filme sobre heróis em quadrinhos, seja em uma comédia, ou até mesmo no mais bizarro filme do gênero terror, a película trata sobre gente e seus medos, seus conflitos, seus dilemas e sua felicidade.

Este longa dirigido por Sam Pillsbury faz uma reflexão profunda sobre o casamento ao narrar com competência um adultério e as derivações que são realizadas sobre este desvio de conduta que um dos cônjuges insiste em realizar. É um motivo óbvio para separação. A infidelidade conjugal é na verdade uma catastrófica desilusão para o ( a ) companheiro ( a ) traído ( a ), quando o amor é unilateral.

O mote remete ao casal Zandalee ( Erika Anderson ) e Thierry ( Judge Reinhold ) que passam por uma crise de relacionamento devido ao bloqueio poético e principalmente sexual de Thierry. A personagem de Erika Anderson não aceita e sobretudo não compreende a momentânea e passageira queda de produção do marido e insatisfeita no sexo é conduzida ao adultério que provoca conseqüências trágicas para ambos. Nicolas Cage é o escroque que acaba por arruinar o casamento.

As atuações são espontâneas com destaque para Nicolas Cage. Judge Reinhold decepciona bastante ao longo do filme. O filme abusa das cenas de sexo, que são na verdade, bem úteis na condução da narrativa. O ano da produção do filme é 1991 e havia mais rigor quanto a filmes que utilizavam o erotismo explícito, sendo esta uma característica marcante na película. A narrativa do longa é definida e o aprofundamento do psicológico de suas personagens é bem acentuado. Os diálogos da película são irretocáveis.

Sam Pillsbury aproveita um bom roteiro e concebe uma obra-prima irretocável sobre a dor da traição, sobre a dor de um homem que espera ao menos compreensão de sua amada esposa durante uma crise de bloqueio ocasionado pela morte do pai e sua conseqüente missão de tocar os negócios da fábrica que está falindo. O poeta apaixonado e romântico Thierry até tenta perdoar o erro da mulher mas sucumbe a essa traição. As idiossincrasias da película remetem o telespectador às mais recôndidas emoções humanas.

A personagem Johnny ( Cage ), um pintor viciado em drogas, não tem por seu amigo de infância qualquer consideração e respeito. O erro de Thierry foi permitir uma aproximação tão de perto e não perceber que as amizades podem não ser sinceras. A personagem de Reinhold é duplamente traído. Os problemas que Thierry enfrenta são diversos e avalassadores, e ele não tem o necessário suporte emocional para enfrentar tal angustiante situação.

ZANDALEE – UMA MULHER PARA DOIS aborda com maestria adultério, incompreensão, decepção, insatisfação sexual, desejos carnais, ciúme e suicídio. Ninguém consegue ficar impassível frente a tantas questões revelantes em um relacionamento ( a três ) que o longa esmiúça. Coerente e realista o filme trata com esplendor um triângulo amoroso onde o invasor causa prazer e dor para sua amante e ainda sobre um homem decente e bondoso que não encontra o devido amparo da esposa diante de tantos problemas que passa a enfrentar e dolorosamente sofre mais ainda com a deslealdade de sua infiel mulher.

O filme trata com habilidade um adultério completamente inconseqüente e coloca na tela a dilemática situação de um homem com sentimentos de pureza no coração e muita dignidade em suas ações que desiludido prefere anular-se a cometer um desvairado atentado contra seu antagonista e sua ingrata e insensível esposa.


MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

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