
CASHBACK é um filme que traz muita originalidade ao cinema. Seu diretor Sean Ellis ( também escreveu o roteiro ) concebeu uma obra que prima por traduzir a beleza existente no mundo e o tempo que devemos aproveitar para apreciá-la. Sob um olhar mais atento sobre a película nota-se o cuidado artístico principalmente do diretor em realizar um trabalho estiloso em todos os aspectos.
Ben Willis/Sean Biggestaff um artista jovem rompe com sua namorada Suzy/Michelle Ryan e passa a ficar insone durante vários dias pensando no romance que terminou. Para ocupar seu tempo passa a ler livros e, pensando também em ganhar dinheiro, consegue emprego no horário noturno em um supermercado. Mesmo sendo um jovem lacônico consegue entrosamento satisfatório com seus novos colegas de trabalho e depois de algum tempo volta a namorar com uma bela funcionária ( Emilia Fox ) de seu emprego.
O longa busca com seu surrealismo lírico exaltar a beleza do corpo feminino e não somente, exalta a beleza das coisas que giram ao redor do universo das mulheres. A película aborda com sinceridade ( em flashbacks ) a descoberta da sexualidade masculina através do nu do sexo frágil. CASHBACK transita poeticamente com a realidade e a fantasia. O aspecto surreal da trama mostra a capacidade que Willis tem em paralisar o tempo. Mas essa abordagem além de funcionar bem na tela serve para deixar uma mensagem sobre apreciar cada segundo da vida. O filme é lírico demais para ser considerado machista, mas a caracterização de suas personagens e a concepção de suas cenas e diálogos tratam do universo masculino.
CASHBACK narra com muita competência e criatividade o amor entre os adolescentes, e possui um vigor narrativo muito forte. Seus diálogos são maduros e a narração em off feita pelo ator Biggestaff traduz um virtuosístico exercício filosófico. Sua fotografia realça ainda mais a beleza de suas cenas. Sua narrativa flui delicadamente e duas cenas são simplesmente antológicas: os gritos e palavrões de indignação das duas moças que namoram – uma em cada momento - a personagem principal são mostrados em câmera lenta e substituídos por música de peça teatral de ópera.
Há, apesar de todo o cuidado tanto de conteúdo como estético em CASHBACK, cenas descartáveis principalmente as que envolvem seus colegas de trabalho. Um dos erros do de Sean Ellis foi colocar as personagens secundárias estereotipadas como o praticante de esportes radicais, o suposto lutador de Kung Fu e o gerente sem-graça do estabelecimento. Quando estas personagens aparecem em cena acontece uma perda de qualidade no longa. Estas cenas sequer são engraçadas.
CASHBACK aborda com maestria relacionamentos amorosos, solidão, assédio sexual, descoberta da sexualidade masculina, ciúme, insônia, lascividade feminina e a formação sexual dos homens. A película sintetiza o universo de um artista com talento para encontrar poesia no universo feminino, aprendendo a aproveitar cada segundo de sua existência ao vivenciar um momento conflituoso em sua vida sentimental, e que adquire – de forma surreal - a habilidade para paralisar o tempo. Passando assim, a valorizar e usufruir deste dom e que ainda desde menino sabe apreciar a imagem traduzida em poesia da nudez das mulheres, e buscando pacientemente encontrar sua maturidade sentimental, profissional e comportamental.
MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA
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