terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Crítica: FOI APENAS UM SONHO

CASAMENTO EM CRISE

A talentosíssima Kate Winslet e o sempre competente Leonardo DiCaprio voltam a estrelar um filme juntos como protagonistas principais. Depois da mega produção TITANIC. Sob a direção de Sam Mendes este FOI APENAS UM SONHO pode ser considerado como a versão, anos 2000, de BELEZA AMERICANA. Filme vencedor do Oscar no final dos anos 90, com Kevin Spacey no elenco. Há semelhanças evidentes entre as duas películas. A mais notória é a crise no casamento que é o mote principal dos dois filmes.

April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) se conhecem em um bar. E acabam se apaixonando. Os dois, já com dois filhos, decidem morar em uma cidadezinha pacata dos Estados Unidos. São calorosamente recebidos pelos vizinhos e Frank tem um emprego que detesta, mas permite uma vida confortável para si e a sua família. Até que April toma a decisão, logo acatada pelo marido, de morar na França. Os dois passam a sonhar em realizar tal objetivo. Sem saberem que a inviabilidade do projeto traria conseqüências tanto de ordem emocional como trágica para um dos cônjuges.

O filme aborda a fragilidade de algumas pessoas em lidar com o seu psicológico. Além de tratar da fragilidade na convivência matrimonial e nas relações humanas. Toda a trama gira em torno deste tripé: casamento, emocional e hipocrisia. São questões altamente relevantes que Sam Mendes soube retratar com sobriedade e elegância. Os significantes e o significado do filme funcionam perfeitamente. O jogo de conveniências empregado pelas personagens secundárias já fazia parte da sociedade monogâmica em 1955 (data da ambientação da trama). A idiossincrasia do filme procura trabalhar com o âmago dos espectadores.

A parte técnica como fotografia e cenários são requintados, mas o mérito do filme é o enfoque nos relacionamentos humanos. Isso afirma que a verdadeira intenção de Sam Mendes era fazer um filme focado nas personagens e seus conflitos, sonhos, sentimentos e frustrações. É um filme de época onde o conteúdo é muito mais destacado que a estética. FOI APENAS UM SONHO foi transposto do livro de sucesso para os cinemas. Essa adaptação sugere muitos elementos narrativos que o diretor soube explorar. Sabendo, ainda, usar a trilha sonora nos momentos certos, Sam Mendes parece ter captado a essência do livro e fez uma obra senão irretocável, bastante original e que causa impacto. Uma dos atrativos do filme são as memoráveis atuações de Winslet e DiCaprio. Com destaque para a estonteante atriz.

A rotina do casamento de April com Frank revela uma imaturidade enorme de ambos para o convívio em comum: a personagem de DiCaprio transa com uma estagiária de seu emprego; ambos não dão a atenção necessária aos filhos e ainda, sonham de maneira quase infantil com a utopia de morar em Paris – fato que desperta surpresa e inveja aos seus ouvintes -. A terceira gravidez de April é motivo – injustificado – para o início do desmoronamento daquilo que vinha se anunciando: o desfecho da relação dos protagonistas principais. A traição da personagem de Winslet – grávida – realça a inexperiência e desequilíbrio psicológico da personagem em lidar com o cotidiano.

FOI APENAS UM SONHO aborda romance, crise no matrimônio, jogo de interesses e de aparências, conveniências, adultério, aborto e utopia. E narra a gestação, formação, deformação e término de um casamento conduzido pela irresponsabilidade e imaturidade de dois amantes na faixa dos trinta anos que não possuem o suporte emocional adequado para sustentar uma relação e levar adiante o conceito de família que conseguiram realizar. Aceitam facilmente interferência externa. Até que, a fatalidade põe um ponto final a uma relação invejada nos mais próximos. E que, efetivamente, não mais existia, pela falta de comunicação entre os dois e pela dificuldade do casal em lidar com a realidade.

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