segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Crítica: VICKY CRISTINA BARCELONA e O SONHO DE CASSANDRA


WOODY ALLEN VOLTA AS SUAS ORIGENS CINEMATOGRÁFICAS

Depois de realizar dois filmes que fugiam a seu estilo tanto narrativo quanto de gênero: as obras-primas MATCH POINT (com Jonathan Rhyes Meyers e Scarlett Johansson) e O SONHO DE CASSANDRA (com Colin Farrell e Ewan McGregor), Woody Allen retorna a comédia - estilo cinematográfico que o consagrou -. Tanto neste VICKY CRISTINA BARCELONA quanto nos antecessores fica evidente o domínio narrativo e artístico de um cineasta mais que maduro em seu ofício. Fica claro também, que tanto na comédia como no drama, Allen sabe conduzir uma narrativa apoiado em seu próprio roteiro.

A trama deste badalado filme – recebeu indicação ao GLOBO DE OURO como melhor filme no gênero comédia ou musical – inicia com a chegada de duas turistas à Barcelona. As moças interpretadas pela sensualíssima - ao que parece ser a nova musa do diretor - Scarlett Johansson (Cristina) e pela bela Rebecca Hall (Vicky) passeiam pela cidade até que Cristina sente uma atração por um catalão interpretado pelo sempre competente ator Javier Bardem (indicado como melhor ator por este seu desempenho para o já citado GLOBO DE OURO). Tendo início um jogo de sedução sem muitas cerimônias. Bardem (Juan Antonio) se apresenta as duas e logo de cara diz que deseja levá-las para a cama. O trio então parte para Oviedo (cidade espanhola). Esta viagem de final de semana inesperada para Vicky e Cristina desencadeia uma série de fatos.


VICKY CRISTINA BARCELONA possui uma narrativa leve e descontraída. Sua montagem é perfeita. A trilha sonora é um capítulo à parte. Bem escolhida, ajuda no tom suave que Allen injeta à trama, e ainda, faz dançar. Os diálogos são tão interessantes quanto agradáveis. Allen optou por uma fotografia bem clara evidenciando distanciar-se ao máximo de seus trabalhos anteriores. As atuações são excepcionais. Com destaque para Bardem. Mas, as também indicadas ao GLOBO DE OURO Scarlett Johansson e Rebecca Hall e ainda Penélope Cruz (Maria Elena) estão em plena forma diante das câmeras.

O filme trata da felicidade, em sua plenitude, no amor e no casamento. Allen realiza um moderno pequeno clássico sobre ser e estar feliz para pessoas que às vezes desejam mais, muito mais do que deveriam supor querer e cobiçar. Aqui, ser feliz não basta para as personagens. É preciso ir mais além. A estabilidade financeira e emocional que a personagem de Rebecca Hall tem ao lado do marido – algo com o qual sempre sonhou - não é suficiente para mantê-la satisfeita. Deseja outros momentos com Juan Antonio. Sintoma da falta do ser humano em contentar-se definitivamente com o que conseguiu conquistar.

VICKY CRISTINA BARCELONA esmiúça um amor doentio entre Juan Antonio e Maria Elena. Esta relação é um dos pontos chaves da trama. A descompromissada Cristina - com relação a estabilidade amorosa - acaba por entrar na rotina, primeiramente com Juan Antonio, do casal. Assumindo o papel de catalisadora de emoções entre o par recém separado. Portanto indecisos quanto aos seus sentimentos. Fica estabelecido um triângulo amoroso entre os três. Não de imediato e também sem ser duradouro. No estranho amor entre as personagens de Bardem e Cruz são citadas as frases mais poéticas da película: “Somente um amor não consumado pode ser romântico” dita por Bardem repetindo a frase de sua ex-esposa e “Nosso amor é o mais e o menos completo” falada também pela personagem de Bardem, referindo ao seu casamento. Frases assumidamente poéticas que refletem um estado filosófico muito profundo que Allen soube como poucos transmitir com exatidão.

Allen faz de Bardem o ápice das atenções. Seu Juan Antonio é a personagem central do filme, sobre ele transitam Penélope Cruz, Scarlett Johansson e Rebecca Hall. Seu Juan Antonio quando toma a iniciativa de aproximar-se de Vicky e Cristina dá início a uma série de experiências e emoções afloradas que move e impulsiona toda a narrativa delicada e prazeirosa de VICKY CRISTINA BARCELONA. Juan Antonio é o típico conquistador que mudaria seu estilo de vida caso tivesse entrosamento de discurso com a neurastênica Maria Elena.

Dois detalhes do filme afirmam a marca de Wood Allen. Ao optar pela narração em off durante todo o filme, o diretor revela um acerto na estrutura narrativa de VICKY CRISTINA BARCELONA. E a insistência da personagem de Bardem quanto ao idioma que Cruz deve usar enquanto fala com Johansson. Trata de uma alfinetada nos filmes americanos quando são rodados em outros países e ainda assim seus diálogos são do idioma inglês.

VICKY CRISTINA BARCELONA é um filme belo e motivador. É também, um manual bem definido - tanto no conteúdo quanto na estética - sobre as relações humanas, sentimentais e sexuais. E aborda a busca da felicidade plena nas coisas do coração e conseqüentemente a infelicidade que essa busca ocasiona. E narra as desventuras amorosas que um homem recém divorciado provoca no íntimo de três pessoas do sexo oposto. Gerando desconforto, confusão e insatisfação tanto nos sentimentos das mulheres como no seu próprio emocional.



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WOOD ALLEN REALIZA MAIS UMA OBRA-PRIMA

O novo filme de Wood Allen (roteiro e direção) tem como referência a mitologia grega. O título do filme refere-se à profetisa da desgraça Cassandra. Allen utiliza este conceito para transpor para o cinema uma verdadeira tragédia grega ao contar a história do embate de dois irmãos, que se amam, depois de cometerem um erro vital em suas vidas. Wood Allen concebeu mais um filme que pode ser considerado um clássico instantâneo.

Colin Farrell – se desconstruindo em cena com sua espetacular atuação – e Ewan MacGregor interpretam dois irmão que possuem seus empregos, mas estão sempre desejando mais da vida. Farrell interpreta um apostador compulsivo e inveterado. Já a personagem de McGregor ajuda o pai no restaurante da família e vive de aparências, como usar carros emprestados pelo irmão mecânico e fingir ser um homem de negócios para conquistar uma bela atriz em começo de carreira ( papel de Angela Stark). Quando a dupla precisa urgentemente de dinheiro por razões diferentes, recorrem a um tio milionário e sem escrúpulos que em troca pede-lhes um favor para escapar da prisão: cometer um assassinato. Está assim aberta a Caixa de Pandora para a desunião entre os irmãos o início de um fim trágico como em um Sonho de Cassandra.

A fotografia do filme reluz na telinha e Allen filma com tamanha maestria que acerta em cada detalhe da película como a trilha sonora. O seu roteiro ajudou na tamanha facilidade de sua direção perfeccionista. A narrativa flui exemplarmente. O SONHO DE CASSANDRA possui conteúdo profundo e formato perfeito. O longa é uma celebração aos grandes dramas de outrora já realizados pela sétima arte. Seus diálogos são pura ironia e inteligência. É um filme denso e arrebatador. Suas idiossincrasias remetem a várias reflexões e questionamentos.

O SONHO DE CASSANDRA aborda magnificamente a dor da consciência por um grave erro cometido; o enlouquecimento provocado pelo remorso; o vislumbramento que o dinheiro causa e suicídio. É um filme que narra a tragédia de dois irmãos que cada qual com sua motivação em ganhar muito dinheiro, envolvem-se em um crime contra um dos sete pecados capitais que, mesmo contrariados, cometem e acabam por sucumbir ao embate moral e letal que ambos travam pelas conseqüências que suas precipitadas e equivocadas ações provocaram.


P.S.: Este crítico de cinema deseja aos seus leitores um feliz Natal e um próspero 2009.

2 comentários:

  1. Comentando dois filmes do mesmo diretor, vc conseguiu transformar sua narrativa enxuta e versátil.
    Tá chegando lá Verdão!

    Boas festas e um beijão nos seus pequenos!

    Daesse

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  2. Obrigado pelas elogiosas linhas, Daesse. Uma das finalidade das minhas críticas é passar para os meus fiéis leitores, como você, o máximo de credibilidade e informação em textos concisos, técnicos e filosóficos.

    Bruno e Renata Daesse: Feliz Natal e um próspero 2009.

    MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

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