terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Crítica: OS ESTRANHOS

EFICIENTE EXERCÍCIO DE TENSÃO PSICOLÓGICA

Filmes de suspense e terror são em sua maioria muito bem aceitos pelos espectadores. O público-alvo consiste nos adolescentes que de geração em geração são os principais consumidores destas produções (uma das especialidades de Hollywood). Neste OS ESTRANHOS o suspense se funde com o terror psicológico e seu resultado aceitável é devido ao clima sufocante e claustrofóbico que bate na tela e alguma originalidade narrativa. A angústia que Liv Tyler e Scott Speedman vivenciam acaba por contagiar os espectadores.

OS ESTRANHOS parte de um roteiro promissor e consegue êxito ao narrar a tensão e tormento psicológico que três estranhos delinqüentes provocam em um casal em conflito quanto ao interesse de firmarem compromisso de casamento. O mote acaba sendo bem delineado e eficazmente dirigido por Bryan Bertino. A narrativa flui e os calafrios e angústias que Liv Tyler e Scott Speedman passam - desde o momento que a campainha toca e uma menina pré-adolescente mascarada pergunta se Tamara se encontra na casa de campo (onde se desenvolve toda a ação) - acabam por fazer da película um eficiente exercício de tensão psicológica.

O filme faz parte de um grupo do gênero suspense que faz o acaso ser o fio-condutor de toda a trama. Tyler e Speedman estão no local errado e na hora errada. Os três estranhos do título desde o início estão sob o controle da situação. Mas desejam sadicamente manipular os dois protagonistas. Inconseqüentes e espertos fazem um interessante jogo de gato e rato com o casal principal e com isso a narrativa funciona bem. Esta essência de OS ESTRANHOS lembra a de HORAS DE DESESPERO (filme da década de 80 com Mickey Rourke). Neste filme a atmosfera era também de claustrofobia.

O longa possui uma estética acertada quanto aos elementos que fazem a narrativa funcionar. Bertino soube aproveitar cada detalhe sombrio para manter o interesse do espectador. O roteiro é fraco, mas o diretor acerta na idiossincrasia que bate na tela. O diferencial de OS ESTRANHOS para outros filmes do gênero é a afirmação de uma história tão plausível ou mais que um filme de um gênero sempre respeitado como o drama. Os bons valores éticos e morais estão cada vez mais sendo desprezados.

Mesmo sem ser brilhante (e realmente, não é) o longa se destaca por produzir vicissitudes originais: O rosto dos três assassinos nunca é mostrado e a razão de tamanho interesse do trio em causar pavor no casal de protagonistas principais é tão fútil quanto desprezível. Reflexo dos tempos atuais onde qualquer motivo gera uma atitude antagônica. Ocorrendo um típico caso de uma banalização da violência. O cinema reflete esta tendência sendo, inclusive, uma de suas peculiaridades.

OS ESTRANHOS possui uma atmosfera asfixiante. E narra horas de desespero de um casal apaixonado e indeciso em relação ao amor que sente um pelo outro, que inocentemente viram vítimas de um jogo de terror e manipulação psicológica. E depois de uma noite inteira de sofrimento e sentimento de incapacidade quanto aos momentos aterradores que passam a vivenciar, acabam de fato virando reféns de um trio que sem motivo algum resolve fazer perversidade somente para saciar seu desejo de sadismo e crueldade.

Crítica: A LISTA – VOCÊ ESTÁ LIVRE HOJE?

SUSPENSE ÓBVIO E SEM NOVIDADES

Ewan McGregor e Hugh Jackman são as estrelas deste apático e previsível A LISTA. Mesmo com a dupla no elenco percebe-se que o filme possui uma carência enorme de qualidades. Carências um tanto notórias evidenciadas pelas próprias atuações dos conhecidos atores. O longa apresenta uma falta de interesse enorme com o desenrolar da narrativa. O desempenho pífio do filme começa pelo fraco roteiro, passa pelas previsíveis reviravoltas e diálogos um tanto ridículos e finaliza com um clímax sem vigor. A direção de Marcel Langenegger é sem sombra de dúvida a maior responsável pelo fiasco que A LISTA acaba sendo.

Ewan Mcgregor vive um contador de empresa entediado com a sua rotina. Até que torna-se amigo de Hugh Jackman. Wyatt Bose (Jackman) finge uma amizade com segundas intenções. Intenções criminosas. Bose oferece a Jonathan Messer (McGregor) uma vida social mais ativa e plena. Seu jogo começa quando troca os celulares e finge viajar a negócios. Messer entra em um clube de sexo por telefone sem saber que na verdade está sendo manipulado. Seu tédio é trocado por noites de sexo com mulheres. Até o momento que Bose decide fazer Messer trocar o sonho pelo pesadelo.

A LISTA é previsível demais em suas reviravoltas e tedioso ao extremo em sua narrativa. O roteiro até que permitia a Langenegger algumas possibilidades de fazer o filme engrenar. Mas o equívoco começa com a falta de habilidade do diretor de fugir dos clichês e lugares-comuns. É perceptível com cinco minutos de antecedência cada virada na trama. Apesar de uns escassos bons momentos aqui e ali na história, A LISTA não passa autenticidade em sua estrutura narrativa.

A LISTA trabalha com a perspectiva de quem levará vantagem sobre o outro: um sujeito pacato ou um espertalhão e vigarista. E também, sobre a mudança de postura em relação ao estilo de vida e ainda, diante das dificuldades das relações humanas. Mas, a concepção de seu conteúdo e estética é amadorística. O desenrolar de todos estes assuntos acaba sendo reduzido a vicissitudes óbvias e a uma completa falta de credibilidade.

A personagem de McGregor acaba ao longo do filme se desacatando e tendo que fazer o que não deveria em função da extrema tensão que as ameaças e chantagens do escroque produzem em seu íntimo. Na tela acontece um duelo de espertezas que Messer nunca havia pensado em ter de enfrentar. Movido por amor, Messer acaba passando com louvor ao teste de resistência psicológica que a narrativa mostra a cada fotograma. Mas, A LISTA não aproveita este jogo de manipulações esboçado no roteiro e deixa de aprofundar no emocional de suas personagens.

A LISTA é monótono e medíocre. Mostra chantagem emocional, fraude e paixão à primeira-vista. E narra a tentativa de um homem solitário em sair da apatia social, sexual e sentimental. E ainda, mostra o amor entre co-chantagista e vítima que de lados opostos no jogo de interesses inicial acabam encontrando um no outro o alicerce para seus conflitos pessoais e o complemento que precisavam para suas antagônicas personalidades.

MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

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